Tem gente que faz da sala de cinema uma extensão de sua sala de estar. Pensei que só eu me incomodava com esta verdadeira 'fábrica de mastigação' no cinema, mas descobri que não estou sozinho. Segue artigo de Ruy Castro sobre o tema:
RIO DE JANEIRO - Em Riga, Letônia, há duas semanas, Agars Egle, 42, profissão indefinida, foi morto dentro de um cinema por estar fazendo barulho ao comer pipoca durante uma sessão do filme "Cisne Negro". Sentindo-se incomodado, um vizinho de poltrona, o advogado Nikolajs Zikovs, 27, silenciou-o com um tiro de pistola.
Estava demorando para acontecer. Há 20 anos, os proprietários de cinemas descobriram que havia mais dinheiro a ganhar com a bonbonnière do que com a exibição do filme. Donde os novos pipoqueiros-exibidores decretaram que não seria mais possível assistir a um filme sem esse complemento alimentar, até então facultativo.
Os novos cinemas já nasceram como extensões da máquina de torrar pipoca. Os próprios sacos de pipoca começaram a ser desenhados de forma a crescer até adquirir as dimensões cúbicas de um balde. O desafio era: qual o tamanho máximo possível de um saco de pipoca, capaz de caber no colo do espectador e não atrapalhar a visão da pessoa na poltrona de trás?
Hoje, mesmo que o sujeito tenha jantado antes de sair de casa, ninguém admite passar duas horas olhando para uma tela sem esse renitente movimento mastigatório. Incrível como, nos anos 60, assistimos a filmes como "Hiroshima Meu Amor", de Alain Resnais, ou "A Noite", de Michelangelo Antonioni, sem comer pipoca.
Uma única pessoa mastigando ao nosso lado não deveria causar grande distúrbio. Mas o rumor de centenas de pessoas triturando grãos de pipoca ao mesmo tempo provoca um efeito britadeira, capaz de sufocar o som de qualquer filme. Por isto, os cinemas tiveram de elevar o volume do som aos intoleráveis níveis atuais -para fazer frente ao exército de maxilares em ação.
Fui informado de que, para os padrões contemporâneos, "Cisne Negro" é um filme quase em surdina. Está explicado o crime. (RUY CASTRO - Folha de S.Paulo - 04/03/2011)
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
Patrão gostou
A moça do vídeo abaixo parece que agradou seu patrão, Silvio Santos, e foi contratada para o jornalismo do SBT em São Paulo. Audiência e polêmica caminhando juntas sempre...
sexta-feira, 11 de março de 2011
Apresentadora critica Carnaval
Apresentadora Rachel Sheherazade, do jornal Tambaú Notícia, afiliada do SBT na Paraíba, diz uma verdade incontestável!
quarta-feira, 9 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
Luta de classes
DANUZA LEÃO
HÁ UNS DOIS ANOS tive uma diarista que começava a trabalhar muito cedo -por escolha dela; às 6h ela já estava em minha casa. Uma morenona bem carioca, simpática, risonha, disposta, sempre de altíssimo astral.
Gostei dela, e como detesto fazer ares de patroa -e não sei-, tínhamos uma relação amistosa e legal, como devem ser todas as relações. Algum tempo depois, comecei a fazer aula de natação em um clube que fica a uns 500 metros de minha casa. A aula era às 7h, mas e a preguiça? Preguiça de levantar da cama, e enfrentar a distância ficou difícil. Tive então uma ideia: levá-la comigo. Assim, teria companhia para ir e voltar, e seria mais fácil a caminhada. Vamos deixar bem claro: não foi nem um ato de gentileza de minha parte, nem pensei apenas em meu proveito.
Achei que seria bom para as duas, e ela, que talvez nunca tivesse entrado numa piscina, ia adorar.
Perguntei se gostaria, ela ficou toda feliz, e, a partir daí, todos os dias íamos juntas, conversando.
Eu pagava minha aula e a dela, e às 8h30 estávamos de volta, alegres, falando sobre nossos progressos. Já que não posso mudar o mundo, pensei, estou exercendo o socialismo -ou a democracia- pelo menos em meu território. Mas notei que a cada vez que contava isso para os amigos, nenhum deles dizia uma só palavra; nem para achar que tinha sido uma boa solução, nem para ficar contra, nem ao menos para achar alguma graça. Silêncio geral e total.
O tempo foi passando. Comecei a perceber pequenos desvios no troco, às vezes dava por falta de uma das três mangas compradas na feira, os picolés que guardava no freezer desapareciam, os refrigerantes e sabonetes também, e eu pensava: "tem dó, Danuza, afinal ela toma duas conduções para vir, duas para voltar, a grana é pouca, se ela fica com oito ou dez reais da feira, é distribuição de renda. E se comeu metade do Gruyère, dizer que o queijo francês é só seu, é um horror"; e assim fomos indo.
Fomos indo até que um dia viajei por um mês, e quando voltei, houve problema com um cheque; coisa pouca, mas ficou claro, claríssimo, que tinha sido ela, e tive que demiti-la, o que aliás me custou bem caro, em dinheiro e pela deslealdade. Depois da demissão, fui descobrindo coisas mais graves -e nem vou contar todas, só uma delas: nos fins de semana, ela vinha com o marido, punha o carro na garagem do prédio e o casal passava o fim de semana na minha casa.
Depois de recibos assinados, tudo liquidado, chegou a conta do telefone do mês em que estive fora: havia 68 ligações para um único celular. Liguei para o número e soube que era de um funcionário do clube de natação, que ela paquerava.
Quando entrou a substituta, tive que comprar lençóis, toalhas e um monte de coisas que ela havia levado. Sei que não sou um modelo de dona de casa, mas alguém conta todos os dias quantos lençóis tem? E tranca os armários? Não eu. Durante um bom tempo fiquei mal: pela confiança, pela traição, depois de quase dois anos de convivência. E agora?
Não sei. Afinal, somos ou não somos todos seres humanos iguais, como me ensinaram? Ou é preciso mesmo existir uma distância empregado/patrão, como dizem outros? Ou esse foi um caso singular?
Aprendi que a luta de classes começa dentro de nossa casa, e mais especificamente, dentro da geladeira. E enquanto o mundo não muda, passei a comprar queijo de Minas, que além de tudo não engorda.
(Folha de S.Paulo - 06.02.2011)
Aprendi que a luta de classes começa dentro de casa, e mais especificamente, dentro da geladeira
HÁ UNS DOIS ANOS tive uma diarista que começava a trabalhar muito cedo -por escolha dela; às 6h ela já estava em minha casa. Uma morenona bem carioca, simpática, risonha, disposta, sempre de altíssimo astral.
Gostei dela, e como detesto fazer ares de patroa -e não sei-, tínhamos uma relação amistosa e legal, como devem ser todas as relações. Algum tempo depois, comecei a fazer aula de natação em um clube que fica a uns 500 metros de minha casa. A aula era às 7h, mas e a preguiça? Preguiça de levantar da cama, e enfrentar a distância ficou difícil. Tive então uma ideia: levá-la comigo. Assim, teria companhia para ir e voltar, e seria mais fácil a caminhada. Vamos deixar bem claro: não foi nem um ato de gentileza de minha parte, nem pensei apenas em meu proveito.
Achei que seria bom para as duas, e ela, que talvez nunca tivesse entrado numa piscina, ia adorar.
Perguntei se gostaria, ela ficou toda feliz, e, a partir daí, todos os dias íamos juntas, conversando.
Eu pagava minha aula e a dela, e às 8h30 estávamos de volta, alegres, falando sobre nossos progressos. Já que não posso mudar o mundo, pensei, estou exercendo o socialismo -ou a democracia- pelo menos em meu território. Mas notei que a cada vez que contava isso para os amigos, nenhum deles dizia uma só palavra; nem para achar que tinha sido uma boa solução, nem para ficar contra, nem ao menos para achar alguma graça. Silêncio geral e total.
O tempo foi passando. Comecei a perceber pequenos desvios no troco, às vezes dava por falta de uma das três mangas compradas na feira, os picolés que guardava no freezer desapareciam, os refrigerantes e sabonetes também, e eu pensava: "tem dó, Danuza, afinal ela toma duas conduções para vir, duas para voltar, a grana é pouca, se ela fica com oito ou dez reais da feira, é distribuição de renda. E se comeu metade do Gruyère, dizer que o queijo francês é só seu, é um horror"; e assim fomos indo.
Fomos indo até que um dia viajei por um mês, e quando voltei, houve problema com um cheque; coisa pouca, mas ficou claro, claríssimo, que tinha sido ela, e tive que demiti-la, o que aliás me custou bem caro, em dinheiro e pela deslealdade. Depois da demissão, fui descobrindo coisas mais graves -e nem vou contar todas, só uma delas: nos fins de semana, ela vinha com o marido, punha o carro na garagem do prédio e o casal passava o fim de semana na minha casa.
Depois de recibos assinados, tudo liquidado, chegou a conta do telefone do mês em que estive fora: havia 68 ligações para um único celular. Liguei para o número e soube que era de um funcionário do clube de natação, que ela paquerava.
Quando entrou a substituta, tive que comprar lençóis, toalhas e um monte de coisas que ela havia levado. Sei que não sou um modelo de dona de casa, mas alguém conta todos os dias quantos lençóis tem? E tranca os armários? Não eu. Durante um bom tempo fiquei mal: pela confiança, pela traição, depois de quase dois anos de convivência. E agora?
Não sei. Afinal, somos ou não somos todos seres humanos iguais, como me ensinaram? Ou é preciso mesmo existir uma distância empregado/patrão, como dizem outros? Ou esse foi um caso singular?
Aprendi que a luta de classes começa dentro de nossa casa, e mais especificamente, dentro da geladeira. E enquanto o mundo não muda, passei a comprar queijo de Minas, que além de tudo não engorda.
(Folha de S.Paulo - 06.02.2011)
terça-feira, 1 de março de 2011
Imprensa veicula obituário de Sarney produzido pela Rádio Senado
O tempo verbal utilizado pela Rádio Senado em uma “biografia” sobre o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), está causando problemas para a Secretaria Especial de Comunicação do Senado. Leia a matéria.
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