Matéria sobre meu bairro, o velho Cambuci...
QUANDO começou a trabalhar no bairro, em 2007, Eliana Peixe queria saber de onde vinha o nome Cambuci. Disseram-lhe que, no passado, havia por lá muitos pés de cambuci -era abundantemente usado na culinária local e na aguardente dos tropeiros. Resolveu fazer uma investigação e descobriu que, pelo menos no bairro, aquela árvore estava em extinção. "Só localizamos uns poucos pés."
Daí começaria um retorno culinário. "O gosto da fruta e das folhas do cambuci está voltando para as casas e restaurantes."
É uma receita que, por acaso, acabou misturando culinária com projetos digitais.
A história começa numa gráfica desativada da prefeitura, com suas máquinas que serviriam apenas para museus. O único sinal de modernidade no entorno daquele prédio são os grafites feitos pelos OsGêmeos, que usam o bairro, onde moram, como um misto de ateliê e galeria ao ar livre.
Eliana foi convidada pela prefeitura para transformar aquele espaço, batizado de Incubadora de Projetos Sociais, em um centro de novas mídias para a comunidade, especialmente os jovens -e, agora, convivem as aposentadas impressoras, convertidas em decoração, com computadores e programas de última geração, fornecidos por causa de parcerias com empresas de telecomunicação.
Como fazia parte do projeto uma relação mais próxima com a vizinhança, apareceu a dúvida sobre o nome do bairro. Aprenderam que os bandeirantes tinham por hábito jogar a polpa da fruta na aguardente para tomar em suas viagens pelo interior do país -é a árvore que simboliza a cidade de São Paulo.
Tais informações foram o suficiente para que colocassem a mão na terra. "Decidimos que plantaríamos pés de cambuci." Desde junho deste ano, foram plantadas 150 árvores pelas praças e canteiros.
Mas a ideia acabou na cozinha das casas e dos restaurantes.
Enquanto as árvores não crescem, importaram-se folhas e polpas, que serviram para que senhoras aprendessem como fazer geleias, tortas e biscoitos. Restaurantes entraram na onda -um deles incorporou no cardápio, com destaque para "nhoque ao molho de cambuci". Já está em fase de experimentação até mesmo uma pizza.
Visitantes são recebidos no local com sorvete. De cambuci, claro.
Como as senhoras frequentam esse centro de novas tecnologias de informações, jovens vão ensiná-las a fazer um blog para divulgar as receitas -um dos projetos capacita jovens para ensinar informática aos idosos.
A descoberta do bairro tem sabor e cor. Os jovens querem fazer uma visita virtual pelo Cambuci usando como trajeto os desenhos dos mundialmente reverenciados OsGêmeos, que estão espalhados nos muros -é um jeito de, sem exagero, levar o gosto local ao mundo. (GILBERTO DIMENSTEIN/Folha de S.Paulo)
terça-feira, 16 de agosto de 2011
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