Imortal sem obra publicada
Apesar de nunca ter lançado um livro, senador Fernando Collor é eleito para vaga na Academia Alagoana de Letras. Única peça apresentada pelo parlamentar é uma coletânea de artigos escritos para jornais
Izabelle Torres (Correio Braziliense)
Uma votação recorde proclamou a crônica anunciada da eleição do senador Fernando Collor (PTB-AL) para uma das vagas de imortal na Academia Alagoana de Letras. Sem opositores para disputar com ele a cadeira na entidade, o parlamentar conseguiu levar 30 dos 40 acadêmicos para a solenidade de votação e recebeu 22 votos a seu favor. O apoio dos integrantes da instituição, formada basicamente por historiadores e literatos, se deu apesar do fato de o senador nunca ter publicado um livro sequer. Para concorrer ao cargo de imortal, Collor entregou apenas uma coletânea de artigos publicados na imprensa. A vitória era tão certa e costurada com antecedência que o parlamentar nem se deu ao trabalho de ir para Maceió assistir à sessão. Foi representado pelo presidente do Instituto Arnon de Mello, Carlos Mendonça, e comunicado por telefone.
A eleição de Collor causou descrédito na comunidade realmente ligada à literatura no estado. Nos bastidores, os eleitores do parlamentar justificam a escolha ressaltando o poder de comunicação da rede Gazeta de Alagoas, que o senador herdou da família. Também costumam citar os dois livros que o ex-presidente prepara para lançar. Um deles, intitulado A crônica de um golpe, está em fase final de produção e conta os momentos que antecederam o impeachment. Em plenário, o senador já anunciou que pretende lançar a obra “em breve”.
Cadeira 20
Fernando Collor vai assumir a cadeira que era ocupada pelo falecido poeta e defensor da cultura alagoana Ib Gatto, a de número 20. O escritor se tornou símbolo dos movimentos em defesa da literatura e do fortalecimento das produções literárias do estado. Entre os mais famosos autores e escritores alagoanos estão o autor Lêdo Ivo e os imortais Jorge de Lima e Graciliano Ramos.
Apesar das boas referências da literatura alagoana, relatos de quem compareceu à solenidade de chancela do candidato Collor para a cadeira na academia ressaltaram o entusiasmo de alguns dos eleitores e a disposição de não apenas votar a favor do parlamentar, mas divulgar o apoio dado à imortalidade do senador. Nesse grupo, estavam Ivan Barros, Milton Ênio — que já presidiu a entidade e é amigo da família Collor há quase 30 anos —, o médico José Medeiros e o ex-governador Divaldo Suruagy. Esse último tem mais uma característica em comum com o colega recém-eleito: também foi tirado do poder por conta da pressão popular. Em 1997, Suruagy renunciou ao cargo de governador e se tornou acadêmico anos depois. Outros ex-políticos também já fizeram parte da entidade, como Arnon de Mello, Teotônio Vilela e Tavares Bastos.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário