(Editorial Folha de S.Paulo - 18/02/2011)
É pelo impulso de imitação, pelo desejo de serem aceitos no seu grupo ou talvez de aparentarem mais idade que muitos adolescentes adquirem o hábito de fumar.
Algumas iniciativas de combate ao tabagismo padecem de espírito semelhante.
Nos Estados Unidos, cresce a tendência de proibir o fumo em ruas, parques e em outras áreas livres. Em Nova York, dentro de pouco tempo os infratores serão multados em U$ 50. A ideia não tarda a ser reproduzida por aqui.
Projeto apresentado na Assembleia Legislativa, de autoria do deputado Vinicius Camarinha (PSB), pretende inibir o tabagismo nas praças e em outras áreas ao ar livre no Estado de São Paulo.
A adaptação do sistema nova-iorquino ao contexto local traz alguns problemas de técnica legislativa. A lei paulista prevê multas apenas para os estabelecimentos onde for tolerado o tabagismo. No caso de um parque, entretanto, quem seria multado? O fumante, como ocorre nos EUA, ou o poder público, que zela pelo lugar?
O projeto é nebuloso quanto a isso. Tampouco parecem claras as vantagens da nova regra para a saúde pública. O chamado "fumante passivo" teria de ser, sem trocadilho, passivo ao extremo se, num lugar desimpedido, não quiser deslocar-se para longe das fontes emissoras de fumaça.
A lógica imitativa é um subcapítulo de outro processo, o da radicalização. É como se, uma vez comprovado o acerto de uma ideia inicial (a proibição do fumo em locais fechados), fosse automaticamente um progresso intensificá-la ao máximo.
O empenho das boas intenções conduz, numa espécie de trajetória linear e infinita, a um clima persecutório e puritano; na defesa do que se considera o bem de todos, esconde-se -como em tantas outras situações- o puro impulso repressor e totalitário.
Lênin, num de seus panfletos, atacou alguns adversários pelo excesso de esquerdismo, "a doença infantil do comunismo", segundo o líder russo. O combate ao fumo também tem, nos atos de exagero e de emulação acrítica a sua doença infantil -ou, se quisermos, adolescente.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
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